Era 6h30 da manhã de sábado e eu já tava de pé, pronto e acordado (ou quase) pra trabalhar. Já nessa hora, uma chuva forte passou rápida por onde eu morava. De uma janela eu só via uma paisagem quase apagada pela chuva e, da outra, diametralmente oposta à primeira, o sol que ainda brilhava entre nuvens.
Às 7h eu tava na parada, esperando o ônibus. Meio com sono, eu me lembrava de todas as besteiras que eu tinha feito e dito no dia anterior e como isso me deixou mal, cansado e com vontade de voltar pra casa e voltar a dormir naquela manhã acinzentada. Foi aí que de um estalo, no meu sono R.E.M. eu sentia que ia perdendo minha religião.
Buyssens disse uma vez que um índice, um signo natural, segundo ele, não comunica nada, embora tenha significação e possa ser interpretado do mesmo modo. Parando pra pensar um pedaço, liguei à falta de comunicação da naturalidade do signo à falta de um emissor, alguém que tivesse a intenção de comunicar algo, de emitir qualquer partícula material (ou não) dotada de significação: um significante e um significado (lembrei de uma amiga agora...). Eis então que ses e pontos de interrogações inundaram minha mente. E se deus fosse realmente personificado? E se Deus usasse como língua a semiótica e todos os seus índices? E se deus, o porquê dos Por quês sem resposta, fosse, na verdade, Deus? Pensando assim, a chuva forte e rápida seria um índice de que toda dor nascida das besteiras do dia anterior logo e rapidamente passaria. Nessa divagação, eu já tava no ônibus, olhando pela janela o sol numa brecha entre (poucas) árvores, prédios e (muitas) nuvens que tentava (e conseguia) brilhar. Índice? E se? E SE?...
Mas aí o céu resolveu cair de uma vez. Cheguei encharcado no trabalho pra descobrir que só trabalharia à tarde, fruto de um engano meu.
That’s was just a dream
... just a dream
... just a dream
…dream?
(LOSING MY RELIGION, R.E.M.)
P.S: a última interrogação não existe na música.
120211